Nos últimos anos temos vindo a assistir ao lançamento de alguns vinhos no mercado nacional que assumem, com maior ou menor intensidade uma diferença marcante: a altitude a que as cepas se encontram plantadas. A ideia pode parecer algo confusa e de difícil demonstração, uma vez que as cinco maiores elevações do nosso país: Pico (2350 m), Estrela (2000 m), Ruivo (1862 m.), Torres (1851 m.) e Areeiro (1818 m.) estão distribuídas pelo território continental e insular e as respetivas denominações de origem, quando existem, produzem vinhos muito diferentes entre si.
No entanto, o conceito de vinho de altitude não é rígido e anda longe de estar definitivamente concluído. A discussão sobre a definição da ideia não é recente mas o tema tem vindo a ser alvo de muita atenção, tanto nacional como internacional, para dar resposta a uma pergunta aparentemente simples.
O que é um vinho de altitude?
A dificuldade mais comum é apontar uma cota a partir da qual estamos em presença de um vinho de altitude. Bastará uma colina ou apenas poderão ser consideradas aqueles cujas cepas se encontram a mais de 2000 ou 3000 metros de altitude, tal como as que existem em Colomé na zona de Salta, Argentina ou no Monte Etna na Sicília?
Ao longo dos anos, os enólogos que produziam vinhos em regiões mais altas aperceberam-se que tinham sido confrontados com condições muito particulares de luz (maior intensidade e radiação ultravioleta), temperatura (grandes amplitudes térmicas), ar (menor percentagem de oxigénio e de dióxido de carbono) e de maturação (níveis mais elevados de taninos e antocianos). Essas diferenças, conjugadas com as caraterísticas geológicas, originariam vinhos mais frescos e com uma acidez mais elevada.
A temática revestiu-se de tanto interesse que no início do milénio foi organizado, na Califórnia, o primeiro simpósio internacional dedicado ao tema da viticultura em altitude. Neste evento, o climatologista, Greg Jones, explicou a diferença entre relevo relativo (as diferença de altitude num ponto baixo e num ponto alto de uma colina) e relevo absoluto (diferença de altitude desde o nível das aguas do mar). Para Jones, o relevo relativo têm influência real sobre o clima e condições meteorológicas, assim para as vinhas também terá. No entanto, os encepamentos que se encontram a uma maior altitude, quando comparadas com outras ao nível do mar, apresentam diferenças significativas no clima e nas condições meteorológicas.
No nosso país a temática também tem sido discutida. Em 2014 ocorreu um “workshop” sobre vinhos de altitude em Vila Nova de Tazem. Os oradores foram unanimes em assumir que esse fator também tem grande influência nas vinhas nacionais. No entanto, a noção apresentada revestiu-se de alguma hibridez, mesclando os conceitos de relevo relativo e absoluto, ou seja, estamos perante um vinho de altitude quando esse fator for capaz de introduzir diferenciação e tiver influência real no produto final.
P.S: a crónica original foi publicada no blog “Contra-Rótulo” em 13/1/2017.