Prova vertical D. Graça Viosinho

Mind the Glass

A revista Paixão pelo Vinho, juntamente com a Vinilourenço, detentora da referência D. Graça, organizou uma prova vertical de uma casta que recentemente tem vindo a ganhar alguma reputação no Douro: a Viosinho.

O Douro Superior, como sabemos, é uma região produtora de vinhos de excelência e de elevada notoriedade. Tradicionalmente tem estado muito ligada à produção de Vinho do Porto, mas nos últimos quarenta anos tem vindo a ser reconhecida também pelos vinhos tintos de lote.

No entanto, as surpresas não acabam aqui. A região também tem vindo a apresentar, entre outros, bons exemplares de vinhos brancos e rosés.

Curiosamente, os vinhos brancos produzidos no Douro de maior notoriedade têm vários traços em comum: a elevada acidez e frescura que lhes são transmitidos através da elevada altitude e pelos solos existentes na sub-região do Douro Superior.

A VINILOURENÇO

É no Douro Superior, mais exatamente na zona da Mêda, que se encontra a Vinilourenço, empresa detentora de várias referências, entre elas a D. Graça Viosinho. Esta é atualmente gerida por Jorge Lourenço, filho do anterior proprietário, Horácio Lourenço, que se dedicou ao plantio de vinhas desde a década de 80.

A Adega com capacidade para 300.000 litros foi construída em 2003, tendo a Vinilourenço nascido apenas em 2006. Esta tem sido gerida por Jorge Lourenço, que assumiu a responsabilidade pela gestão do sector vitícola e pelo Professor Virgílio Loureiro, enólogo responsável pelas marcas Fraga da Galhofa e D. Graça.

Os vinhedos deste proprietário estendem-se por cerca de 45 hectares em diferentes localizações (Poço do Canto, Vale da Teja e Pocinho). As altitudes das propriedades variaram entre os 200 e os 650 metros. Os solos são de xisto nas zonas mais baixas e xisto/granito nas zonas mais altas.

A Vinilourenço apresenta vinhos de lote como é comum nesta região vinícola, mas curiosamente, os vinhos de topo de gama têm vindo a apresentar, de uma forma regular e com bastante qualidade, uma única casta. São exemplos desta orientação os vinhos feitos a partir de Touriga Nacional, Tinto Cão e Sousão nas castas tintas e de Viosinho e Rabigato nas castas brancas.

A CASTA VIOSINHO

Apesar de pouco aromática, apresenta um brilhante equilíbrio entre açúcar e acidez, proporcionando vinhos estruturados, encorpados e, muitas vezes, ricos em álcool.

É uma casta de maturação precoce, muito sensíveis ao oídio e à podridão, mas origina vinhos estruturados e frescos. A casta Viosinho está dispersamente implantada nas vinhas velhas brancas misturadas do Douro. É uma variedade tem vindo a adquirir prestigio nos últimos anos.

Curiosamente, o pai do atual proprietário da Vinilourenço, Horácio Lourenço, apostou no plantio desta casta no passado, procurando um fator de diferenciação, quando muitos tomaram o caminho inverso devido à sua pouca produtividade e rendimento muito baixo.

As uvas para produzir este monocasta são provenientes da vinha que está situada no Poço do Canto, a uma altitude entre 550 e os 650 metros.

A PROVA VERTICAL

A prova vertical das 10 colheitas, entre 2005 e 2014 (mais a prova da amostra da referência de 2015, que ainda não está no mercado), decorreu no Tryp Lisboa Aeroporto Hotel e esteve integrada na comemoração dos 10 anos da revista Paixão pelo Vinho.

O evento foi comentado pelo enólogo Virgílio Loureiro e por Jorge Lourenço, o atual proprietário. Nesta prova estiveram vários convidados ligados ao setor da restauração, da produção e da crítica de vinhos. Os provadores da revista Paixão pelo Vinho responsáveis pela classificação foram: João Pereira Santos, Marco Lourenço, Maria Helena Duarte, Mário Conde, Paulo Pimenta e Pedro Moura.

As onze colheitas, entre os anos 2005 e 2015 inclusive, foram provadas desde o do mais jovem para o mais antigo, sendo comentadas pelo enólogo responsável pelos vinhos da Vinilourenço, o professor Virgílio Loureiro e pelo atual proprietário, Jorge Lourenço.

A prova teve três momentos claramente distintos. O primeiro, no qual desfilaram as colheitas de 2015, 2014 e 2013, onde ficou patente a juventude da casta. Aqui foi evidente a faceta mais frutada, floral e vegetal da casta, conjugadas com a enorme frescura, corpo médio e acidez elevada.

O segundo momento ficou marcado pela evidente evolução que a casta apresentou. No nariz desfilaram aromas a querosene, petróleo e especiarias sempre envoltos em boa frescura e acidez. Fizeram parte deste lote as colheitas de 2012, 2011, 2010, 2009 e 2008.

Um terceiro e último momento foi protagonizado pelas colheitas de 2007, 2006 e 2005. Nesta fase da prova a casta revelou-se ainda mais evoluída. Os aromas a cogumelos, terra e mel foram evidentes, tal como a elevada perceção de acidez.

No final da prova ficou bem patente a capacidade de envelhecimento que esta casta apresenta.

Depois de provadas todas as onze colheitas os vinhos foram pontuados de 0 a 20 de acordo com a escala interna da revista Paixão pelo Vinho e que seguidamente se apresenta:

1º D. Graça Viosinho  2006 – 17,75

2º D. Graça Viosinho  2010 – 17,16

3º D. Graça Viosinho  2008 – 16,75

4º D. Graça Viosinho  2009 – 16,66

5º D. Graça Viosinho  2007 – 16,41

6º D. Graça Viosinho  2012 – 16,40

7º D. Graça Viosinho  2011 Garrafeira – 16,33

8º D. Graça Viosinho  2015 – 16,25

9º D. Graça Viosinho  2014 – 16,00

10º D. Graça Viosinho  2005 – 15,75

11º D. Graça Viosinho  2013 – 15,50

Em boa hora, o pai Horácio apostou numa casta branca autóctone capaz de apresentar um perfil diferente perfeitamente adaptado às terras altas da Mêda.

O futuro apresenta-se risonho para a casta e para a região.

Artigo inicialmente publicado na revista Paixão pelo Vinho nº 66

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