Os acontecimentos mundiais que marcaram o ano de 2022

Leitor Wine & Stuff

Ao longo deste ano tenho acompanhado e divulgado as principais notícias associadas ao universo vínico nacional e internacional. Com o aproximar do final do mês de dezembro olhámos para trás e fizemos um balanço do ano que agora finda.

Acontecimentos vínicos marcantes na Europa e no mundo

Janeiro

O início do ano abalou o mundo do vinho do Porto. A Universidade de Groningen apresentou um estudo no qual afirmou que alguns vinhos, com a categoria Tawny 10 e 20 anos, não teriam a idade referida no rótulo. O Instituto dos Vinhos do Porto e do Douro reagiu rapidamente em comunicado, mas os danos na imagem ficaram.

Ainda neste universo, o mês de janeiro viu nascer uma nova categoria nos vinhos do Porto com indicação de idade: Porto Tawny 50 anos.

Fevereiro

No decurso deste mês foi rejeitada, pelo Parlamento Europeu, uma recomendação para o uso de advertências de saúde nos rótulos dos vinhos como parte de uma nova estratégia de prevenção do cancro pela União Europeia. Esta foi substituída por mensagens que promovam o consumo moderado.

O mês de fevereiro marcou a venda das Caves São João – Sociedade dos Vinhos Irmãos Unidos, Lda, uma das mais antigas e prestigiadas empresas da Bairrada, a um grupo de interessados.

Um dos destaques deste período foi a criação de um Instituto da Vinha e do Vinho dos Açores, com sede na ilha do Pico. Este surge na sequência do crescimento qualitativo que o setor vitivinícola do Arquipélago dos Açores tem vindo a conhecer dentro e fora de portas.

Março

Ao longo deste mês inúmeros governos, empresas e consumidores proibiram e boicotaram produtos fabricados na Rússia, após a invasão da Ucrânia.

No Douro, a Sogevinus – Fine Wines foi a primeira empresa a declarar ano Vintage Clássico para as suas quatro marcas. Várias companhias fizeram a mesma declaração com o decorrer do tempo.

Mais a Sul, a Global Wines anunciou a contratação de Manuel Pinheiro como futuro “chairman” do grupo e das empresas que este integra.

As produtoras Eduarda Dias (Vadio), Francisca Van Zeller (Aveleda) e Mariana Roque do Vale (Casa Clara/Ermo Wines), juntaram-se para criar o movimento “Nós do Vinho”, que apoia o acolhimento e integração, em Portugal, de refugiados ligados ao sector do vinho na Ucrânia.

Abril

Ao longo deste mês algumas das principais publicações internacionais sobre vinhos começam a tecer considerações pouco radiantes sobre o futuro da produção dos vinhos provenientes da Ucrânia.

A Bacalhôa Vinhos de Portugal anunciou um conjunto de iniciativas direcionadas a profissionais e consumidores, celebrando o seu 100 º aniversário.

Maio

Com o agravar da situação na Ucrânia, multiplicaram-se as iniciativas para ajudar a população em fuga.

A Fundação Gérard Basset fez uma parceria com a Artémis Domaines para oferecer a bolsa de estudo “The Golden Vines Victims of Conflict“. Estas irão apoiar profissionais qualificados da indústria do vinho vítimas de guerras e conflitos geopolíticos.

O importador de vinhos Les Caves de Pyrene, com sede no Reino Unido, tem ajudado a realojar as famílias que fogem da Ucrânia, devastada pela guerra, e a acomodá-las em refúgios seguros em toda a Europa fornecidos pelos produtores de vinho do importador.

Em Bordéus, Laurent Fortin, Cônsul Honorário da Ucrânia para a região da “Nouvelle Aquitaine” e proprietário do Château Dauzac, pediu doações do mundo do vinho para um leilão beneficente organizado pela plataforma de leilões online iDealWine.

No nosso país, o destaque foi para os dados partilhados, pela ViniPortugal, sobre as exportações de vinho. Em comparação com o período homólogo de 2021, no primeiro trimestre de 2022, houve um aumento de 2,48% em valor e 4,07% no preço médio, ultrapassando-se os 212 milhões de euros em vinho português exportado.

Junho

O mês de junho ficou marcado pelo simpósio “Act for Change” na Cidade do Vinho, em Bordéus. O foco do evento foi sobre os desafios colocados pelas mudanças climáticas. Curiosamente, o simpósio ocorreu durante uma onda de calor, com temperaturas acima de 40° em Bordéus e eventos climáticos extremos registados em todo o país.

Credits: Philippe Labeguerie

Por cá, e no mesmo sentido, a Sogrape apresentou uma plataforma de previsões climáticas, desenvolvida no âmbito do projeto europeu MED-GOLD, que promete ajudar o sector a enfrentar os desafios colocados pelas alterações climáticas.

Ainda durante este mês, a Sogrape viu o seu Programa Global de Sustentabilidade ser reconhecido com o prémio IRGAwards, atribuídos anualmente pela consultora Deloitte, na categoria “Sustainability Initiative Award”, que reconhece as iniciativas que tenham tido relevância na melhoria dos impactos sociais e ambientais da atividade empresarial.

Julho

Em julho, a família Torres anunciou a sua expansão nas Rías Baixas, através da compra das Bodegas Valdamor, no Vale do Salnès. Também foi comunicado que a empresa pretende aumentar os vinhedos para 20 hectares naquela região, num investimento global de sete milhões de euros.

No Norte, Dora Simões foi eleita para o cargo de Presidente da Direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.

Ainda durante este mês, a família Symington anunciou a entrada no capital da empresa Caves Transmontanas, produtora do espumante Vértice. A operação foi feita através de um aumento de capital, ficando com 50% da sociedade.

Agosto

O mês de agosto ficou marcado pelas secas severas e ondas de calor que representaram desafios para os produtores de vinho em toda a Europa. Em Bordéus foi emitida uma autorização especial a permitir a rega das vinhas. Do outro lado do atlântico também foram reportadas situações similares.

Setembro

Após muita discussão e batalhas jurídicas, o Château Figeac foi o único produtor a garantir a cobiçada promoção a Premier Grand Cru Classé A, na classificação St-Emilion 2022.

Setembro também ficou marcado pelo falecimento de António Guedes, administrador da Quinta da Aveleda. Após a morte do pai, no final dos anos 60, ficou à frente dos destinos da empresa e foi uma figura incontornável do progresso e do crescimento da Região dos Vinhos Verdes em todo o Mundo. 

Outubro

Em outubro, o Hall of Fame ganhou mais uma estrela. Rosa Kruger, figura de destaque na viticultura mundial que desempenhou um papel importante no desenvolvimento do setor vínico da África do Sul, foi anunciada como vencedora do prémio Decanter Hall of Fame de 2022. Este ano marca a 39ª edição do evento, anteriormente conhecido como Homem ou Mulher do Ano lançado em 1984.

Após um hiato de dois anos, o último dia do mês de outubro marcou o regresso do Congresso Anual da Organização Internacional da Vinha e do Vinho. Esta edição teve lugar em Ensenada, México e contou com a presença de produtores, académicos, legisladores e prestadores de serviços no qual discutiram as mais prementes questões enfrentadas pelo mundo do vinho.

Ainda durante este mês, a ViniPortugal (organização inter-profissional de promoção dos Vinhos de Portugal no estrangeiro) e a OIVE (Organización Interprofesional del Vino de España) lançaram uma campanha promocional conjunta intitulada “Feel The European Quality With Wines From Spain and Portugal” e terá uma duração de três anos.

Novembro

O inicio do mês de novembro ficou marcado pela emissão de uma carta aberta, liderada pela Wine Traders for Alternative Formats, alertando para o impacto ambiental da fabricação e reciclagem de vidro. Segundo esta organização a mudança do uso do vidro para outros formatos poderia economizar mais de um terço da pegada de carbono do setor vínico, o que seria o equivalente a tirar 350 000 carros das estradas. Esta carta foi assinada por muitas personalidades vínicas europeias incluindo Jancis Robinson e Hugh Johnson.

Novembro viu nascer o pináculo, denominado Terraelectae, na categoria de vinhos Chianti Rùfina. Esta contrasta com o Gran Selezione do Chianti Classico, uma categoria criada há cerca de uma década para destacar os melhor vinhos desta Denominazione di Origine Controllata e Garantita.

Neste mês foram batidos todos os recordes no famoso leilão dos “Hospices Civils de Beaune”. O preço médio por barril vendido, neste evento de sete horas, atingiu um novo máximo de 35 974 Euros. As vendas do evento ultrapassaram o maior total para um leilão beneficente realizado pela Sotheby’s.

No dia 23 de novembro realizou-se o Fórum Anual dos Vinhos de Portugal organizado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV). Neste evento foi divulgado o relatório anual no qual se apresentou o desempenho dos vinhos portugueses no mercado de Portugal Continental. Segundo o IVV, de Janeiro a Setembro de 2022, a venda de vinhos cresceu 12% em volume (204 milhões de litros) e cresceu 41,5% em valor (817 milhões de euros). Curiosamente, o preço médio subiu 26,4%, quando comparado com o mesmo período homólogo.

Quase no final do mês, a APENO (Associação Portuguesa de Enoturismo), em parceria com a Abreu Advogados, promoveu o primeiro debate público sobre o enoturismo. Um momento histórico para o setor.

Dezembro

O primeiro dia de dezembro será lembrado pelos maiores protestos das últimas décadas dos pequenos produtores de Bordéus. As ruas do centro e do cais da cidade foram tomadas pelos tratores de mais de 1000 “vignerons” exigindo uma mudança nas políticas do governo Francês. (Para um conhecimento mais pormenorizado, clique aqui e aqui)

Por cá, o final do ano ficou marcado pelo anúncio da Symington Family Estates sobre a aquisição da Casa de Rodas, uma propriedade na região dos Vinhos Verdes. Esta é composta por uma casa senhorial do século XVII e 30 hectares de vinha com a casta Alvarinho. A enologia ficará a cargo de Anselmo Mendes.

Até breve.