O solstício de verão como mote para a alvorada de uma nova era na The Fladgate Partnership

Mind the Glass
Credits: Fladgate Partnership

O solstício de verão, também conhecido como solstício estival, ocorre quando um dos polos da Terra tem sua inclinação máxima em direção ao sol e é o dia do ano com o maior período de luz. Este momento, carregado de simbolismo, foi escolhido pela The Fladgate Partenership para apresentar uma nova era e uma nova divisão da empresa, a Fladgate Still & Sparkling Wines.

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Fladgate Partnership: uma empresa que se mescla com a história do vinho do Porto

Em 1667, Colbert, primeiro ministro do rei francês Luís XIV, desenvolveu uma série de medidas para restringir a importação de produtos ingleses para França. Como resposta, Carlos II de Inglaterra proibiu totalmente a sua importação, obrigando o comércio de vinho inglês a procurar fontes alternativas de abastecimento.

Este foi o contexto que levou, em 1692, Job Bearsley a fundar a Taylors e a estabelecer-se em Portugal com o objetivo de comercializar vinhos para as ilhas britânicas. Este começou por fazê-lo com a expedição de carregamentos em navios a partir do porto de Viana do Castelo. O vinho era então produzido em torno das povoações de Monção e de Melgaço e seria bem menos intenso e de coloração muito mais clara.

No entanto, o palato britânico não se afeiçoou aos vinhos tintos parduscos produzidos na altura, o que levou à busca de novos territórios para satisfazer a procura. Desta forma, Peter Bearsley, filho de Job Bearsley, detentor do cargo de cônsul britânico, com sede em Viana do Castelo, começou a olhar para o interior em busca de vinhos mais robustos e encorpados, provenientes das encostas íngremes e rochosas do Vale do Douro.

Como a longa distância e o terreno montanhoso entre o vale do Douro e Viana do Castelo implicavam o envolvimento de muitos recursos, que muitas vezes redundavam em insucesso, os vinhos começaram a ser transportados de barco pelo rio Douro até à cidade do Porto. Daí, outras embarcações levá-los-iam para Inglaterra.

Nesta altura, as empresas comercializadoras de vinhos desenvolviam os seus negócios ao abrigo dos tratados firmados entre Portugal e Inglaterra, anteriores a 1387, como o Tratado de Windsor, até ao muito famoso Tratado de Methuen (1703). Estes acordos permitiram às empresas britânicas venderem vinho à Grã-Bretanha, embarcado no cais de Vila Nova de Gaia e, na viagem de volta, traziam produtos manufaturados à base de lã e algodão. Outras havia que realizavam um comércio triangular através do envio de vinho para a Grã-Bretanha e sal para a Terra Nova, trazendo de lá bacalhau, para completar o circuito de navegação.

Entre as principais empresas exportadoras de vinhos desta época podemos encontrar a Croft, fundada em 1588 e adquirida pela Fladgate Partnership, em 2001.

As empresas dependiam quase exclusivamente das encomendas dos agentes espalhados pelas ilhas britânicas que eram enviadas regularmente para a cidade do Porto. Os escritórios da cidade tinham, por sua vez, de comprar o vinho “de feitoria”, “legal” ou “de embarque”, como era conhecido na época, para tal recorriam a intermediários para os adquirirem, por exemplo, na feira anual da primavera, na qual os lavradores vendiam os seus vinhos ao preço estipulado e em quantidades autorizadas, pela Companhia criada pelo Marquês de Pombal.

Para obter algumas vantagens negociais e ampliar relacionamentos Bartholomew Bearsley, foi o primeiro exportador britânico a adquirir uma propriedade no Douro, perto da cidade da Régua. Este facto é ainda hoje comemorado pelo vinho do Porto Taylor’s First Estate Reserve.

Com o passar dos anos, o negócio do vinho do Porto tornou-se um sucesso retumbante e a procura do vinho do Porto não parou de crescer. Este facto levou a alterações na demarcação da região, que originalmente se concentrou em torno da atual cidade da Régua, em direção à fronteira com Espanha.

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A transformação dos mercados no século XX e XXI: a diversificação e concentração dos negócios

Até 1929, o mercado britânico ainda concentrou cerca de 66% das vendas de vinho do Porto, num distante segundo lugar emergiu o Brasil, com apenas 9%. No entanto, o período iniciado em 1929 pela Grande Depressão até ao final da II Guerra Mundial, marcou uma época absolutamente devastadora no setor que provocou o colapso quase total do comércio do vinho do Porto. Inicialmente, para contrariar esta tendência, as empresas tentaram aumentar o número de mercados e diversificar a oferta. Assim, a Taylor’s introduziu o Chip Dry, um novo estilo de vinho do Porto branco de aperitivo, em 1934.

A década de 60 marca a recuperação do setor do vinho do Porto. Curiosamente, o mercado britânico não voltaria a assumir a primazia das exportações devido às alterações nos padrões de vida e hábitos de consumo. Assim, o mercado europeu, em especial o francês, emergiu como um dos principais importadores de vinho do Porto.   

O novo milénio trouxe novos desafios. O volume de vendas começou a decair novamente e assistiu-se a uma concentração dos grupos económicos e a uma nova vaga de diversificação dos produtos vínicos e do seu universo. 

Uma das mais entusiasmantes mudanças foi a criação da nova tendência conhecida por super tawny’s. A Fladgate, no outono de 2010, lançou no mercado uma edição muito limitada de um porto Tawny datado de 1855, sob o nome Scion. Estava cimentada uma nova era no mercado dos vinhos do Porto.

Nesse mesmo ano foi inaugurada em Vila Nova de Gaia, na zona dos armazéns de envelhecimento de vinho Porto, uma nova estrutura vínica, o Yeatman Hotel, que mostrou uma inovadora fusão entre luxo e cultura vínica, para todos os amantes e curiosos do vinho. 

Em 2020, o grupo inaugurou um projeto turístico de carácter holístico que representou um investimento de cerca de 105 milhões de euros. O World of Wine congrega um conjunto de museus, lojas, restaurantes, uma escola do vinho e uma galeria de exposições temporárias.

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A Fladgate Still & Sparkling Wines inaugura uma nova era na empresa

O dia 21 de junho foi escolhido pela The Fladgate Partenership para apresentar uma nova era e uma nova divisão da empresa, a Fladgate Still & Sparkling Wines.

Esta nova divisão do grupo The Fladgate Partnership foi criada em 2023 após a compra da Ideal Drinks que detinha propriedades nas regiões dos Vinhos Verdes, do Dão e da Bairrada, rendendo-se assim, após mais de 300 anos, à produção de vinhos tranquilos.

Tal como referiu Adrian Bridge, “Houve sempre a expectativa que entrássemos nos vinhos de mesa no Douro, mas sempre dissemos que precisávamos das uvas das nossas quintas para acompanhar o crescimento das vendas das categorias especiais de vinho do Porto…e, entretanto, surgiu esta proposta para a compra da Ideal Drinks, que aceitámos”.

O projeto integra, na região da Bairrada, duas propriedades, a Quinta Colinas São Lourenço e a Quinta da Curia, num total de 61 hectares. Na região dos vinhos verdes detém três propriedades, a Quinta da Pedra, a Quinta dos Milagres e o Paço de Palmeira, num total de 54 hectares. No Dão pontifica a Quinta da Bella, uma propriedade com 23 hectares.

O diretor desta nova divisão, Raúl Riba D’Ave, referiu que “toda a gama de vinhos foi alvo de um reajuste nos preços e no número de referências disponíveis. O melhor exemplo disso mesmo é a marca Colinas que será apenas direcionada para a produção de espumantes”.

Para Adrian Bridge, “a internacionalização destas marcas é o grande desafio, mas o grupo acredita que, já este ano, a Fladgate Still & Sparkling Wines terá 30% das suas vendas nos mercados internacionais”.

A nova divisão da Fladgate Partnership marca uma nova era na longa e intrincada história da empresa que se funde com a do vinho do Porto, mas acima de tudo revela a plasticidade e capacidade de adaptação de uma companhia a um negócio cheio de vicissitudes, meandros e oportunidades, tal como o rio Douro.

Credits: Fladgate Partnership

Artigo inicialmente publicado na revista Grandes Escolhas

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