Mind the Glass

Ao longo deste ano muitos foram os vinhos que foram desfilando no meu palato, alguns deles ficaram na memória, mas outros distinguiram-se de tal forma que merecem o devido destaque numa publicação autónoma.

Este ano escolhi um espumante, brancos e tintos com idade, com barrica e sem ela. Destaquei igualmente um rosé e um fortificado. Também indiquei um acontecimento vínico do ano e, para terminar, o projeto vínico do ano.

Espero que gostem.

Os Melhores do Ano de 2023

Espumante

António Maçanita Da Pedra Se Fez Espumante Extra Bruto Cuvée Nº 2 Non Millésimé

Pico – 12,5% – PVP: 130 Euros – Nota: 96/19

Mistura das colheitas de 2018 e 2019 e estágio em garrafa durante 36 meses. Um grande espumante português capaz de fazer esquecer muitos similares de outras paragens. É, talvez, um dos melhores exemplares nacionais.

Brancos

BRANCO COM IDADE

Quinta San Joanne Escolha Branco 2003

Vinhos Verdes – 12,5% – PVP: 70 Euros – Nota: 95/19

Um vinho cheio de frescura, equilíbrio e vivacidade… passados 20 anos. De classe mundial. Esta referência é mais um exemplo da longevidade dos vinhos brancos da região dos Vinhos Verdes.

BRANCOS COM BARRICA

Mapa Vinha de Muxagata Branco 2018

Douro – 13% – PVP: 45 Euros – Nota: 95/19

Um grande branco do Douro, ainda muito jovem, que compagina galhardamente gordura, elegância, profundidade e personalidade. A não perder.

BRANCO SEM BARRICA

António Maçanita Arinto dos Açores Solera Branco

Estágio de 4 colheitas pelo método de solera. Este Arinto dos Açores mostra a plasticidade e versatilidade da casta. Mais um grande vinho vinho tirado da cartola do António Maçanita.

ROSÉ

Quanta Terra Phenomena Pinot Noir Rosé 2021

Regional Duriense – 12,5% – PVP: 27 Euros – Nota: 93/18,5

Proveniente de uma vinha situada a 600 metros. Esta referência mostra aromas a flores, fruta vermelha, especiarias, fruta silvestre e alguma mineralidade. No palato revela fruta vermelha muito fresca e especiarias.

A afirmação de um grande rosé na melhor edição de sempre.

TINTOS

TINTO COM IDADE

Outrora Raro Baga Tinto 2015

Bairrada – 12% – PVP: 120 Euros – Nota: 96/19

Esta Baga apresenta aromas a fruta vermelha, leves especiarias, sangue, mineralidade e leves balsâmicos. O palato mostra fruta vermelha levemente texturada, leves especiarias e um final muito longo. Para a mesa ou para guardar. Um grande vinho da Bairrada capaz de mostrar o potencial de guarda e da casta. Para beber de joelhos. Este vinho requer cuidados de serviço.

TINTO COM BARRICA

Lobo de Vasconcellos Vinha do Norte Tinto 2019

Douro – 14,5% – PVP: 62,5 Euros – Nota: 96/19

Destacam-se os aromas a fruta vermelha, mineralidade e fruta preta complementadas por algum cacau, flores, baunilha e tabaco. No palato confirma-se a fruta levemente texturada, a leve baunilha e o chocolate. Para a mesa.

Um grande vinho que combina músculo e elegância. Uma estreia em grande para mais uma estrela do proveniente do Douro.

FORTIFICADOS

Barbeito 3 Amigos 50 Anos

Madeira – 20% – PVP: 989 Euros – Nota: 99/19,5

Este vinho mostra aromas tropicais, fruta cristalizada, cera, frutos secos, mar, vinagrinho e balsamo. No palato destacam-se uma verdadeira explosão das notas de fruta cristalizada e sal num registo fresco. Para guardar ou para a mesa.

Um vinho verdadeiramente exclusivo, explosivo e avassalador. Para beber de joelhos.

ACONTECIMENTO VÍNICO DO ANO

Dirk Niepoort: Prémio Decanter Hall of Fame 2023

Credits: Decanter Magazine

Dirk van der Niepoort tornou-se o 40º ganhador do prémio Decanter Hall of Fame, que homenageia aqueles que fizeram contribuições significativas para o mundo moderno do vinho.

O estilo descontraído vestindo calções e “crocs” são a imagem de marca reconhecida em qualquer lugar do mundo, no entanto, esta aparência simples e frugal esconde uma personalidade complexa e sagaz. Dirk Niepoort guindou a reputação e o perfil dos vinhos portugueses a um patamar nunca antes visto, apoiado numa estratégia bipolar consagrando a tradição e desprezando as convenções.

Sob a sua batuta, a Niepoort adquiriu a Quinta de Baixo, na Bairrada, em 2012 e a Quinta da Lomba, no Dão, em 2014 e também produz vinhos no Minho, Alentejo, Madeira, Açores, Alemanha e Espanha. O projecto ‘Nat Cool’ centrou-se em vinhos mais leves e com intervenção mínima.

Parabéns, Dirk Niepoort.

PROJETO VÍNICO DO ANO

Companhia de Vinhos dos Profetas e Vilões

Credits: Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Vilões

Os dias de chumbo da época da pandemia ainda não foram completamente apagados das nossas memórias. A maioria guarda péssimas recordações desses tempos, no entanto as dificuldades não duram para sempre e, por vezes, dão origem a novas ideias e projetos para o futuro. No mundo do vinho também.

Nuno Faria, proprietário de vários restaurantes em Lisboa, durante o primeiro confinamento restringiu-se ao Porto Santo, nesse tempo lançou um novo desafio vínico ao enólogo e produtor António Maçanita. Criaram uma nova sociedade, a Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Villões, numa alusão às alcunhas entre ilhas, Profetas é como os madeirenses chamam aos porto santenses e Villões o que os habitantes de Porto Santo chamam aos madeirenses.

Os vinhos que têm chegado ao mercado têm por bases as castas Listrão e Caracol e não deixam ninguém indiferente. O Listrão dos Profetas 2020 e o Listrão dos Profetas – Vinho da Corda 2020, ambos lançados no final de 2021 conseguiram 94 e 95 dos famosos pontos Parker, respetivamente. Estas foram as notas mais altas que vinhos brancos portugueses receberam até hoje, nunca um branco nacional ultrapassou os 95 pontos na “Wine Advocate”. Posteriormente, a Master of Wine Jancis Robinson distinguiu o Vinho da Corda com 19 Pontos. Um começo brilhante.

Conseguirá a equipa liderada pelo António Maçanita revolucionar os vinhos tranquilos da Madeira tal como fez nos Açores? Veremos, mas começou com o pé direito!!

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