Visitar a adega de Anselmo Mendes é irrecusável. Visitar a adega e provar dezenas de vinhos de diferentes proveniências é memorável e tem um efeito transformador.
Anselmo Mendes nasceu e cresceu em Monção foi aí que se familiarizou com a vinha e com a produção do vinho. Em 1987 obteve o grau de licenciado em Engenharia agro-industrial pelo Instituto Superior da Universidade Técnica e, mais tarde, pós-graduou-se em Enologia pela Universidade Católica. Desde então, a vida de Anselmo Mendes mudou e com ela a região dos Vinhos Verdes, em especial a sub-região de Monção-Melgaço.
A transformação teve o seu fulcro na mistura de um espírito aberto à mudança com a compra de algumas barricas com as quais procedeu a vários ensaios de fermentação, na adega de seus pais com a casta Alvarinho estreme.
O estudo foi de tal forma aprofundado e persistente que durou cerca de 10 anos. No entanto, na altura tinha apenas 24 anos e duas barricas Assim, no ano de 1998, Anselmo Mendes iniciou a produção de vinhos da casta Alvarinho provenientes de Monção e Melgaço.
Atualmente, é a partir de três castas (Alvarinho, Loureiro e Avesso), em três vales da Região Demarcada dos Vinhos Verdes (Minho, Lima e Douro), que produz as suas referências. É interessante perceber as cambiantes das castas pela mão deste produtor agregadas na gama Muros Antigos. O Loureiro apresenta forte influência climática do Oceano Atlântico mas os aromas da casta estão bem presentes. O Avesso, da zona de Baião, está na fronteira entre o clima continental do vale do Douro e a influência marítima do Douro Litoral. Os solos graníticos contribuem para um perfil rico em acidez e mineralidade. O Alvarinho proveniente dos solos de Monção e Melgaço junto ao rio, a baixa altitude, mostra bem o caráter da casta.
Apesar de produzir e lançar inúmeras referências de Alvarinho para o mercado anualmente, o vinho mais icónico, não só pelo invulgar formato da garrafa mas também pelos mais de 25 anos de estudo, talvez ainda seja o Muros de Melgaço. Um vinho feito de uvas da casta Alvarinho, exclusivamente produzidas em Melgaço, que fermenta e estagia em barricas de carvalho francês durante 6 meses.
Ainda assim, Anselmo Mendes não esgota as possibilidades e expressões na região dos vinhos verdes. Nos últimos anos tem vindo a apostar noutras regiões.
No ano de 2014 rumou à Beira Interior para recuperar um pomar e no regresso trouxe uvas da casta Síria que lançou recentemente no mercado
No Sul produziu o vinho Alvarinho 2 2 1. Duas regiões (Monção e Lisboa), dois enólogos (Anselmo Mendes e Diogo Lopes), um vinho elegante que fermentou em madeira usada.
Na Ilha Terceira, enamorou-se pela casta Verdelho e lançou, em parceria com Diogo Lopes, o vinho Magma 2015 e o Muros de Magma 2015. Dois vinhos marcados pela salinidade espelhando o “terroir” da região.
No Dão, o Quinta de Silvares 2015, oriundo de uma vinha com mais de 30 anos, com as típicas da região: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Jaen. Um tinto leve e fresco mas simultaneamente exuberante.
Do Douro, produziu o Anselmo Mendes Não Convencional 2012. Este vinho foi feito com castas pouco usuais na região: Tinta Carvalha, Tinta da Barca, Rufete, Tinta Francisca, Alicante Bouschet e Cornifesto, entre outras. O álcool baixo, a pouca extração e o corpo médio ajudam a reforçar a ideia inicial.
Pela quantidade de regiões em que faz vinhos, Anselmo Mendes já está muito para lá do epítome de Sr. Alvarinho, talvez seja mais apropriado Sr. Alvar(v)inho.
Fotos: D.R.
Artigo inicialmente publicado na revista Paixão pelo Vinho nº 70