As notícias e os vinhos que marcaram um ano de chumbo – Parte II

Mind the Glass

O ano de 2020 foi difícil, quase insuperável, mas não terá sido o pior de todos. Bem sabemos que estamos no olho de uma tempestade pandémica com repercussões económicas, financeiras e sociais. Ainda assim, a vacina que começa a ser inoculada à população permite encarar o futuro com renovado fôlego e esperança para ultrapassar as dificuldades que nos assolam.

De tirar o fôlego a qualquer pessoa estiveram os vinhos nacionais durante o ano de 2020. A qualidade nunca foi tão alta e multiplicam-se as referências absolutamente marcantes e, por isso, capazes de elevar o nome de Portugal a patamares nunca vistos.   

Estas são as minhas escolhas do ano e, na minha opinião, representam o que de melhor se faz no panorama vínico nacional.

Os Melhores do Ano

Espumante

Vértice Espumante Gouveio Bruto 2012

Rosé

Kopke Winemaker ́s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2019

Brancos

Anselmo Mendes Curtimenta Branco 2017

Titan of Douro Fragmentado Blend I Branco

Titan of Távora-Varosa Deamon Branco 2018

Tintos

Casa da Passarella Tinto 2009

Quinta das Bágeiras Pai Abel Tinto 2015

Tiago Cabaço Gerações M Tinto 2013

Fortificado

S. Leonardo Porto Very Old Tawny + 100 Anos

Enólogo do Ano

Luís Leocádio

Luís Leocádio é natural de Trevões, uma localidade próxima de São João da Pesqueira. Aos 14 anos começou a tratar as videiras, os vinhos e os trabalhos na vinha na primeira pessoa, pois viveu na Quinta dos Lagares até aos 19 anos, juntamente com os seus progenitores.

O curso de enologia surgiu de forma natural tendo em conta o seu percurso de vida, mas teve de se ausentar do Douro para o fazer, ainda assim acompanhou os trabalhos na Quinta no tempo que lhe sobrava entre o folhear dos livros de enologia e o manuseamento dos materiais de laboratório.

O apelo do Douro era grande e logo após a conclusão do curso regressou para continuar a amealhar experiência através da realizaçãode vindimas na Quinta dos Canais, Quinta da Pedra, Quinta do Cais, Quinta da Laje, Quinta da Veiga, entre outras.

Em 2011, Luís Leocádio começou a trabalhar na Vines e Wines desenvolvendo o seu trabalho no Dão, Bairrada e Beira Interior. No entanto, o apelo do rio e das vinhas durienses continuou na sua mente e em 2013 regressou para colaborar com o professor e amigo, João Cabral Almeida, nos projetos da Quinta da Calçada, Quinta da Veiga, Quinta do Estanho e Camaleão.

No ano de 2014 foi contratado para desenvolver vinhos biológicos na Quinta do Cardo, teve pela frente um desafio aliciante mas plenamente alcançado. As referências desta Quinta começaram a desenvolver uma aura de caráter e identidade tornando-se num dos pilares de qualidade da região da Beira Interior.

Concomitantemente, é consultor em empresas no Douro, Quinta do Estanho e Quinta da Cuca, onde produz vinho do Porto e de mesa de grande qualidade. Na região do Dão abraçou o projeto Palácio de Anadia, no qual assina vinhos de grande qualidade, caráter e identidade.

Mais recentemente, abraçou um novo projeto na região da Beira Interior, a Quinta da Biaia. O ano de 2020 revelou bem a profunda redefinição operada pela enólogo. A nova rotulagem, posicionamento de mercado e aumento da qualidade dos vinhos permitem desde já encarar o projeto como incontornável na região.

Ainda assim, a jóia mais brilhante da coroa enológica é, sem dúvida, o projeto “Titan of Douro” iniciado em 2016, em Paredes da Beira, um dos locais mais esquecidos e inóspitos do Douro. A opção pela produção de vinhos frescos, com diversas práticas enológicas e que expressassem o local foi acertada. A renovação do Douro está em marcha e o resultado está à vista de todos.

Projeto Vínico do Ano

Titan of Douro

O projeto iniciou-se em 2016 pela mão de Luís Leocádio numa região que o viu nascer, o Douro. Desde cedo a aposta recaiu na produção de vinhos frescos, com carácter e identidade respeitando a história e as tradições dos seus antepassados.

Para o conseguir recorreu aos vinhedos do seu sogro plantados em pé franco, com mais de cem anos, que estavam situados na encosta do rio Távora, próximo de Paredes da Beira, entre os 750 e os 850 metros de altitude, o ponto mais alto do Douro. O solo desta zona é muito diferente do tradicional xisto. Por lá reina o granito arenoso e os filões de quartzo.

As caraterísticas únicas da localização foram importantes mas só fizeram sentido quando se aliaram às técnicas enológicas aportadas pelo Luís Leocádio. Desta forma, o portefólio cresceu assente numa impressionante diversidade de práticas que consistem no uso de borras de colheitas anteriores, mistura de vinhos de anos diferentes, uso de lagares, barricas e ânforas na fermentação e envelhecimento do mosto e vinho.

Os resultados obtidos revelam vinhos de grande qualidade alicerçados em técnicas tradicionais quase remetidas para o limbo do esquecimento enológico, mas que desafiam o “status quo” empurrando-o para a exploração de novos perfis e imaginários.

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