O AETERNUS é o novo topo de gama da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Trata-se de um tinto que sairá para o mercado apenas em anos considerados de excepcional qualidade. A edição inaugural é da colheita de 2017, data do falecimento da pessoa que o mesmo pretende homenagear – Américo Amorim.
Com o lançamento deste vinho, o Grupo Amorim visou não só fazer um tributo ao seu maior impulsionador, como também assinalar os 20 anos de presença da família Amorim no sector dos vinhos. A Quinta Nova foi adquirida em 1999, sendo na época, propriedade da Burmester – marca entretanto vendida à Sogevinus.
Empreendedor nato, empresário notável e figura de proa da economia nacional, para além da família, era no Alentejo que Américo Amorim tinha o seu porto de abrigo. A extensão, a temperatura e a languidez daquela região mexiam com ele. O Alentejo proporcionava-lhe, simultaneamente, a paz que o permitia relaxar e pensar, como também a energia que o fazia crescer e evoluir. Tinha com aquela região uma relação quase umbilical, já que era nela que, maioritariamente, se desenvolvia a origem do negócio da sua família – o montado! No entanto, era também um apaixonado pelo Douro, pelos socalcos da vinha centenária e pelos quilómetros de muros de xisto que enriqueceram a região ao longo dos tempos. Melhor do que ninguém, sabia dar valor ao trabalho hercúleo existente por trás de todo aquele excesso de natureza – nas palavras de Miguel Torga. Não conseguiu ficar indiferente à beleza da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo e nela encontrou a concretização de um sonho antigo – a produção de vinhos de qualidade superior.
Foi na Fundação Albertina Ferreira de Amorim, em Mozelos – Santa Maria da Feira, lugar onde nasceu e cresceu Américo Amorim, e casa onde ainda hoje a família se reúne para passar o Natal, que Luísa Amorim (a sua filha mais nova e a responsável pelos negócios familiares no sector dos vinhos), recebeu a imprensa para o lançamento deste vinho de homenagem.
No âmbito de um discurso emotivo, do qual gostámos tanto ao ponto de lhe pedirmos que o partilhasse posteriormente connosco, deu-nos a conhecer um pouco mais daquilo que foi a vida do seu pai, enquanto homem e empresário.
O nome não poderia ter sido melhor escolhido. AETERNUS – faz jus a um homem que se imortalizou através do seu legado. Não daquele que deixou aos seus herdeiros, mas aquele que deixou a todos nós, Portugueses. Um exemplo que englobará sempre uma enorme capacidade de trabalho, com grande noção estratégica, uma gestão competente e uma combinação quase extranatural entre visão e intuição. Mais do que a capacidade de investir em certos negócios, admirar-lhe-ei sempre a capacidade de sair, na altura certa, de outros tantos.
AETERNUS possuí também o A de Américo, o A de Amorim e relembrará sempre uma das suas frases ou observações mais marcantes e até polémicas: “Às vezes falam-me da minha sucessão e eu digo – sou eterno”. Claro que ele sabia que não o era enquanto ser terreno, mas também não ignorava que tinha conquistado esse lugar no mundo dos negócios. Irão passar várias décadas, senão mesmo séculos, até aparecer outro Américo Amorim na história de Portugal.
E por falar em história, a família/Grupo Amorim não tem uma longa existência no mundo dos vinhos, mas registou nele já alguns méritos. Reconheço-lhe pelo menos dois. A saber:
1 – O Grupo Amorim é um, se não mesmo o maior responsável pelo incremento do enoturismo de qualidade na região vinhateira do Alto Douro. E olhem que eu não sei isto meramente por ler em jornais ou revistas. Sei isto por experiência própria. Comecei a fazer enoturismo numa altura em que não havia nada…ou praticamente nada no Douro e, menos ainda, noutras regiões do país. Por essa razão, sei exactamente o que representa a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo no âmbito do enoturismo.
2 – Elaboração de vinhos de qualidade e posicionamento em conformidade. Encabeçar a produção de vinhos de qualidade e saber posicioná-los de forma adequada, não estará ao alcance de qualquer um. Ao fazê-lo, prestam não só, como também, um bom serviço a Portugal enquanto país produtor de vinho. Chega de “vender” Portugal como produtor de vinho barato. A qualidade é algo caro, em Portugal ou em qualquer parte do mundo, no sector do vinho ou noutro qualquer.
Se existirem empresas que consigam catapultar Portugal para este patamar de reconhecimento internacional de valor e, consequentemente, de preço… só teremos mesmo é que agradecer.
O ano de 2017 foi um ano extremamente seco e quente, onde a evolução das condições climáticas teve como consequência o adiantamento significativo do ciclo vegetativo, fazendo com que a vindima tenha sido uma das mais precoces de que há memória. A ausência prolongada de chuva e as temperaturas elevadas até Junho tiveram grande impacto nas vinhas, levando a perda de produção, nomeadamente pela desidratação ocorrida nos cachos, conduzindo a um aumento da concentração.
O perfil clássico do AETERNUS 2017 denota a robustez das castas autóctones, “a rugosidade do tempo e a persistência da mão humana na construção dos ditos quilómetros de xisto – que Américo Amorim comparava à muralha da China”.
“Portanto, achámos que se tivéssemos de fazer uma homenagem teria de ser exactamente com este vinho, por aquilo que o meu pai significava como pessoa e por aquilo que este vinho também significa para nós” – disse Luísa Amorim.
Com a Natureza a mostrar toda a sua imprevisibilidade, foi preciso convocar a larga experiência da equipa de enologia e viticultura da Quinta Nova, liderada pela dupla Jorge Alves e Ana Mota (enólogo e viticultora) que, no momento certo, soube intervir e fazer frente a uma das vindimas mais difíceis de sempre.
No entanto, o resultado foi surpreendente, sendo este AETERNUS um bom exemplo disso. Um vinho de enorme concentração, complexidade, suave textura, com excelente frescura e grande persistência. Foram produzidas pouco mais de 3500 garrafas e o seu PVP é de 140,00€. Um presente de natal seguramente memorável para qualquer amante de vinhos!
Olga Cardoso