O ano iniciou-se com o anúncio da “Wine and Spirits Trade Association” sobre o aumento dos preços dos vinhos importados para o Reino Unido. Um fenómeno que decorreu da depreciação da Libra em relação ao Euro, após o “Brexit”, e que continuou durante todo o ano.
Quase na mesma altura, a “University College” publica um estudo no qual é esperado um aumento de 2 graus centígrados e mais 5% de chuva até ao final deste século. Este aponta igualmente para o surgimento de novas regiões vínicas que até muito recentemente não teriam viabilidade. Ao longo do ano surgiriam notícias que poderíamos ligar a estas novas informações: a Taittinger planta vinhas na região de Kent para iniciar a produção de espumante Inglês em 2023 e Miguel Torres Sénior informou que estaria a adquirir vinhas em zonas, atualmente, demasiado frias para a produção de vinho, bem como a apostar em castas mais resistentes à seca.
No entanto, apesar das notícias sombrias sobre o ambiente, o Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Davis anunciou o primeiro sequenciamento do genoma da casta Cabernet Sauvignon. Este facto irá contribuir para uma melhor adaptabilidade às condições climáticas bem como num melhor conhecimento dos aromas e sabores desta variedade.
Em Abril, Steven Spurrier é eleito “Man of the Year” pela revista Decanter. É o reconhecimento da importância de uma figura, com uma carreira de mais de 50 anos, que colocou no radar vinhos de aquém (Borgonhas como Dujac, Coche-Dury, Lafon e Lefaivre) e além mar (o Julgamento de Paris, em 1976, teve uma real importância na descoberta e no desenvolvimento dos vinhos da Califórnia).
Durante este ano, as principais revistas mundiais publicaram artigos bastante positivos para o setor vínico nacional. Pela primeira vez um vinho não fortificado, o Barca Velha 2008, recebeu 100 pontos da revista “Wine Enthusiast” e a marca “Graham’s” sobe ao 10º lugar na restrita lista “The world’s most admired wine brands” 2017, elaborada pela revista “Drinks Internacional”.
Ainda assim, os três maiores destaques viriam de jornalistas baseados no Reino Unido. O primeiro, a revista Decanter publicou, em julho, pela caneta de Sarah Ahmed, um extenso artigo sobre os vinhos do Pico. Esta publicação confirmou, a nível mundial, a tendência do reconhecimento da qualidade dos vinhos dos Açores que já era notória em anos anteriores. O segundo destaque vai para os vinhos nacionais, na revista Decanter e pela mesma jornalista, mas desta vez sobre as castas tintas nativas. O artigo sublinhou o incremento qualitativo que o panorama vínico nacional denota e que advém das variedades indígenas, bem como a dupla tendência dos tintos mais leves dos Açores, Bairrada e Vinho Verde, bem como os encorpados do Douro e Alentejo. Por fim, destacaria a escolha dos 10 vinhos que mais impressionaram Jancis Robinson, a mais influente jornalista e “Master of Wine” do mundo, na última década.
As revistas nacionais também estiveram em destaque. Na primeira metade do ano assistimos à maior reviravolta no setor das revistas sobre vinhos. De uma penada vimos chegar ao fim a revista Wine, cuja equipa se transferiu para a Revista de Vinhos, que por sua vez se tinha demitido em bloco e criado uma nova revista: Vinho: Grandes Escolhas.
O universo vínico não se esgota no produto em si, muitas outras iniciativas mereceram destaque durante o ano de 2017. Uma das mais badaladas foi o “World of Wine”. O grupo “The Fladgate Partnership” colocou em marcha um projeto que terá início em 2020 e ocupará 30 000 metros quadrados da zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia. Estima-se que serão criados vários museus interativos, 12 restaurantes, uma série de lojas de artesanato, uma escola de vinho e ainda um espaço para exposições temporárias e eventos.
Outra iniciativa não menos badalada foi o evento “Must – Fermenting Ideas”. A primeira cimeira mundial sobre vinhos decorreu no Centro de Congressos do Estoril. Este acontecimento contou com vários especialistas internacionais em várias áreas do conhecimento em torno do vinho. Destacaram-se as intervenções de Alice Feiring, conhecida pelo seu trabalho em torno dos vinhos naturais; de Felicity Carter, editora da “Meininger’s Wine Business International”, bem como a de Eric Azimov, o crítico e editor executivo de vinhos no New York Times.
Durante este ano as aquisições e fusões de empresas sucederam-se a nível mundial. Na Califórnia, a “Duckhorn Wine Company” comprou a “Calera Wine Company”. Em França, o “Château Phélan Ségur” foi comprado por investidores belgas e na Borgonha o “Domaine Clos de Tarte” foi vendido a François Pinault, proprietário do “Château Latour”. Por cá, a Aveleda compra o Quinta do Vale D. Maria e a Fundação Eugénio de Almeida fez o mesmo com a Tapada do Chaves.
De uma forma geral, as vindimas começaram muito mais cedo. Em Bordéus, a Merlot nunca foi vindimada tão cedo. No Chile, as uvas foram apanhadas quase um mês antes do normal devido ao calor. Em Itália, a vindima também começou mais cedo, cerca de 15 dias. Muito embora as vindimas tenham começado mais cedo em quase todos os pricipais países produtores de vinho, tal situação não foi sinónima de maior volume de produção, muito pelo contrário. A produção mundial caiu, segundo a Organização Internacional do Vinho, cerca de 8% (dados provisórios). Para esta diminuição terão contribuído decisivamente a Itália, a França e a Espanha, pois viram reduzidas as produções em 23%, 19% e 15%, respetivamente devido às más condições climatéricas. É, por isso, expetável uma subida dos preços dos vinhos. Por cá, as vindimas começaram em agosto, um dos anos mais precoces de sempre. No entanto, a produção nacional não seguiu a tendência mundial e aumentou em cerca de 10%. As exportações de vinho português cresceram 5,7% em volume e 8,5% em valor, entre janeiro e setembro de 2017.
Em setembro, A Wine America apresentou o primeiro estudo detalhado já realizado sobre o impacto económico da indústria do vinho nos Estados Unidos da América. Este mostrou que o benefício total da indústria do vinho para a economia é de 219,9 bilhões de dólares. Estas informações podem beneficiar os produtores Portugueses, já que este vasto mercado procurou, segundo Adam Strum, novas regiões europeias e vinhos com maior acidez e menor graduação alcoólica.
Os incêndios, a nível mundial, marcaram o último terço do ano. Em “Napa Valley” mais de 20 produtores reportaram danos nas propriedades, 5 dos quais sofreram perdas totais ou significativas. Em Espanha, os incêndios foram igualmente devastadores na zona da Galiza, em especial na região de Neves onde arderam cerca de 15 a 20% do total das vinhas. A vaga de incêndios que assolou o nosso país atinguiu fortemente alguns produtores no Centro de Portugal. Na Quinta dos Roques arderam 12 hectares de vinha e na Casa de Mouraz o balanço foi ainda mais trágico arderam vinhas, armazéns e a casa dos proprietários.
A “Liv-ex” lançou, nos últimos dias do ano, , em conjunto com a revista “Drinks Business”, a décima segunda edição do “Liv-ex Power 100” – a lista anual das marcas mais poderosas no mercado de vinhos. Este ano, a Borgonha tem sido a estrela. A lista contém 24 marcas da Borgonha em comparação com 19 no ano passado. Cerca de 22 dos 50 melhores preços são da Borgonha. O sucesso da região foi impulsionado pelo aumento da procura nos mercados asiáticos.