Corria o ano de 1661 quando Jean-Baptiste Colbert conseguiu ser nomeado, através do Cardeal Mazarino, para desempenhar o cargo de Ministro de Estado do rei Luís XIV. Passados alguns anos, fruto dos bons serviços desempenhados, foi-lhe atribuído o cargo de superintendente das construções, artes e manufaturas e ainda o de intendente das Finanças.
Durante o tempo em que desempenhou estas funções conseguiu um lugar de destaque na história de França, pois implementou uma prática mercantil industrial que incentivou a produção de manufaturas de luxo para exportação através do comércio mundial.
Em 1668 foi nomeado Secretário de Estado na Casa do Rei e no ano seguinte foi criada a Secretaria de Estado da Marinha, na qual Colbert foi o primeiro titular. Ao longo do tempo em que desempenhou funções mandou construir mais de 270 navios, de guerra e de transporte, capazes de satisfazer as aspirações mercantis e expansionistas do rei Luís XIV.
Talvez Colbert se tenha apercebido rapidamente que a indústria naval consumia enormes quantidades de madeira de excelente qualidade e por isso mandou plantar a imensa floresta de Tronçais, com mais de 10500 hectares, localizada no departamento de Allier, para abastecer as contínuas necessidades de carvalho para a construção de navios.
Uma mudança de paradigma
Com o passar das décadas, os barcos abandonaram as velas, os longos mastros e os cascos de carvalho para abraçarem o motor e o frio metal que lhes proporcionaram maiores calados, maior tonelagem e superior segurança para enfrentarem as cada vez maiores viagens ao longo dos oceanos e mares do mundo.
Os carvalhos invulgarmente altos, devido à riqueza dos solos e do clima, da floresta de Tronçais, que davam excelentes mastros para os barcos de guerra e de mercadorias foram rapidamente aplicados na tanoaria para a construção de barricas capazes de acondicionarem os vinhos franceses, e de outras latitudes, para deles se extrair ainda melhores qualidades capazes de agradar a uma sempre crescente multidão de fãs, quase incondicionais, das múltiplas regiões vinhateiras francesas.
Os carvalhos transformados em barricas, provenientes das florestas que Colbert mandou plantar, têm, atualmente, como destino final não só França mas também quase todos os países produtores de vinho mundiais devido às propriedades únicas que conferem durante o processo de fermentação, estágio e envelhecimento da bebida preferida de Baco.
Um dos países que importa as barricas de carvalho provenientes desta, e de outras florestas, é Portugal cujos vinhos, tintos e brancos, estagiam em espaços temporais determinados pelos enólogos.
No Norte do país, uma das empresas que tem vindo a incrementar o uso destas barricas, nos vinhos topo de gama, é a Quinta da Pacheca.
O uso revolucionário das barricas
A Quinta da Pacheca fica situada em Cambres, próximo da Régua, na margem esquerda do Douro e é composta por 57 hectares. Há alguns anos liderou a primeira vaga do turismo na região, com a alienação de terrenos para a construção do hotel Aquapura e com a inauguração de um pequeno hotel na propriedade.
Em 2012, os empresários Maria do Céu Gonçalves e Paulo Pereira adquiram a propriedade e iniciaram um processo de melhoria da qualidade dos vinhos e da oferta do enoturismo.
Uma das inovações foi a instalação, numa das localizações mais altas da propriedade, de pipas de vinho muito especiais, tão especiais que os visitantes podem deslocar-se e dormir dentro delas.
Os dez quartos, cinco de cada lado, foram instalados dentro de barricas que ficam localizados nas proximidades do edifício principal. Cada um dos quartos tem um nome de uma casta do Douro e no seu conjunto formam os “Wine Barrels”.
Para além do quarto completo com a respetiva casa de banho, cada barrica tem um “deck” de madeira equipado que serve para contemplar o relaxante ambiente circundante.
Tenho a certeza que este novo e revolucionário uso das barricas estaria muito longe das mais elaboradas congeminações que Colbert poderia ter feito para aumentar os rendimentos de um país, mas muito mais próximas do arrojo de Mariana Pacheco Pereira, também conhecida como a “Pacheca”, quando teve de assumir os destinos da Quinta depois da morte do marido.
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