Mind the Glass

Ao longo do ano de 2019, o grupo Wine & Stuff acompanhou e divulgou as principais notícias associadas ao universo vínico internacional e nacional. Com o final do mês de dezembro à vista, olhamos para trás e fazemos mais um balanço do ano, que está quase a terminar.

A Europa e o mundo

O ano iniciou-se com péssimas notícias. No dia 16 de janeiro morria Gerard Basset, a única pessoa que, para além de possuir um MBA em “Wine Business”, detinha dois títulos altamente cobiçados: “Master of Wine” e “Master Sommelier”. Uma figura mítica no mundo vínico.

O mês de janeiro também ficou marcado pelo desaparecimento de Beppe Colla, uma das figuras mais importantes na criação da DOCG Barolo, tal como é conhecida atualmente.

O mês mais pequeno do ano apresentou a dissidência de nove produtores da região de Penedès (Gramona, Recaredo, Torelló, Llopart, Nadal, Sabeté i Coca, Mas Candí, Huguet-Can Feixes e Júlia Bernet), para criarem uma nova marca focada na qualidade denominada “Corpinnat“. Este conjunto de produtores representa apenas 1% do total de produção mas produzem seis das treze denominadas “Parajes Calificados” e 30% das Cavas “Gran Reserva”. Um passo na direção da qualidade ou um projeto com o fim à vista? O futuro dirá.

Em março, a cidade do Porto recebeu centenas de representes da indústria vínica mundial para participarem na conferência “Climate Change Leadership 2019”. Este ano, Al Gore proferiu o discurso final muito focado na emergência global colocada pelo aquecimento global.

No mesmo sentido, a família Torres e a “Jackson Family Wines” juntaram esforços e criaram o grupo “International Wineries for Climate Action Group” tendo em vista a descarbonização da indústria. Os membros também se comprometeram em reduzir as emissões de carbono em 80%.

No mês de abril, a generalidade dos produtores de vinho do Porto declararam o ano de 2017 como Vintage. Esta proclamação originou um acontecimento inédito no setor, nunca antes foram declaradas duas colheitas consecutivas como Vintage. Será uma tendência para ficar?

A segunda metade do mês de maio ficaria marcada pelas palavras de Lisa Perroti-Brown anunciando a reforma do crítico de vinhos mais influente das últimas décadas, Robert Parker. Uma notícia já esperada depois da venda da sua posição maioritária na “The Wine Advocate” a um grupo de investidores asiáticos. Parker terminaria uma carreira iniciada em 1984 capaz de criar verdadeiras tendências vínicas mundiais. Quem será capaz de tomar o seu lugar?

A segunda metade do ano viu aprovado um marco histórico em Bordéus. O “Syndicat of AP Bordeaux and Bordeaux Supérieur ” aprovou o uso de sete castas, incluindo Marselan, Touriga Nacional e Alvarinho, com o intuito de combater as alterações climáticas.

No mês de outubro, os Estados Unidos da América aumentaram, em 25%, as tarifas de importação para os vinhos franceses, espanhóis, alemães e ingleses. Uma decisão que causou grande consternação na Comissão Europeia.

Em dezembro, a Organização Mundial da Vinha e do Vinho, após conhecer cerca de 85% dos resultados mundiais, anunciou um decréscimo de 10% na produção mundial de vinho após a confirmação do decréscimo, em 15%, da produção em França e Itália e, essencialmente, dos quase 25% em Espanha.

Tendências de 2019

O ano de 2019 revelou algumas tendências vínicas nacionais mas também mundiais. A primeira, e mais visível, é não só a assunção das alterações climáticas mas também a implementação de medidas que possam reverter ou mitigar essas alterações.

Neste sentido podemos observar movimentações em vários campos conexos. Em primeiro lugar há cada vez mais produtores a implementar práticas mais biológicas e com menos impacto no ambiente.

Neste sentido existe uma corrente mundial de produtores e consumidores que adotaram o conceito de vinho natural como garantia de não agressão ao ambiente e de vinho não manipulado. A procura, e a polémica, em torno deste tipo de vinhos não pára de aumentar a nível global.

Em segundo lugar têm vindo a ser publicados cada vez mais estudos na busca de novas localizações para as vinhas em países ou territórios frios ou de elevada altitude (Inglaterra, Rússia, Noruega, Patagónia, entre outros), que eram absolutamente impensáveis há 20 anos.

Em Portugal esta tendência também tem vindo a marcar território em especial através de Vasco Croft (Aphros), António Marques da Cruz (Quinta da Serradinha), Fernando Paiva (Quinta da Palmirinha), Pedro Marques (Vale da Capucha), Pedro Ribeiro (Bojador), Rodrigo Filipe (Quinta do Paço – Humus), Tiago Teles, entre outros.

Recentemente, Dirk Niepoort criou o movimento “Nat’Cool” com o objetivo de dar ainda mais visibilidade a este tipo de vinhos.

As escolhas de 2019

Para o fim deixo as minhas escolhas vínicas, apenas algumas referências que considero incontornáveis no panorama vínico nacional.

A categoria dos vinhos rosés chegou através das revistas cor de rosa a todo o mundo. Por cá existem belíssimos exemplares que podem ser bebidos ao longo do ano.

A referência que mais me impressionou durante este ano foi provada próximo do final: Giz Vinhas Velhas Baga Rosé 2018.

Na categoria dos vinhos brancos nunca o nosso país esteve tão próximo de ser capaz de competir qualitativamente com as principais regiões do mundo. Neste capítulo tenho de destacar um vinho absolutamente extraordinário: Casa da Passarella Villa Oliveira 1ª Edição 2010-2015.

No que concerne aos vinhos tintos a escolha é um pouco mais difícil, mas terei de destacar um vinho que alia um excelente trabalho enológico com uma elegância absolutamente irrepreensível, cada vez mais notória, dos vinhos do Douro: Quinta da Boavista Vinha do Ujo Vinhas Velhas 2016.

Os fortificados ocupam uma parte importante da minha vida e deveriam ser reverenciados pelos Portugueses, pois estes são alguns dos melhores vinhos que podemos beber em todo o mundo. Este ano tive oportunidade de provar um Quinta do Junco VVV que muito me impressionou.

Para o fim deixo um espumante absolutamente extraordinário, Raríssimo by Osvaldo Amado Espumante Extra Bruto Blanc de Blancs 2006, com o qual brindo ao novo ano de 2020 que nos trará novos e inolvidáveis vinhos.

Cheers.

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