Ao longo do ano de 2018, o grupo Wine & Stuff tem vindo a acompanhar e a dar conhecimento dos principais desenvolvimentos associados ao universo vínico internacional e nacional. Com o final do mês de dezembro à vista é um bom momento para olharmos para trás e fazermos um balanço do ano, que agora, está quase a terminar.
A Europa e o mundo
O ano iniciou-se com a perspetiva futura dos robots substituírem os humanos em algumas tarefas na vinha. Os Symington, no Douro, mostraram como o robot “VineScout” pode monitorizar a saúda da vinha e alertar os enólogos para algum problema que possa surgir. O Château Clerc Milon, em Bordéus, também tem vindo a fazer experiências com o robot “Ted” no cultivo de terras e no arranque de ervas daninhas.
O início do novo ano também nos trouxe a notícia de uma nova classificação regional na Borgonha intitulada: “Bourgne Côte D’Or”. Esta nova designação deve ser enquadrada no patamar anterior ao “Village”.
Em fevereiro, a equipa do professor Patrick McGovern, apresentou novas evidências que confirmam a Georgia como o berço da produção de vinho. A análise de compostos orgânicos encontrados em pedaços de barro resultaram numa datação: 6000 anos A.C. Na prática, esta investigação demonstra que a primeira domesticação da planta deve ter ocorrido nesta região há cerca de 8000 anos.
Também ficamos a saber em fevereiro que a Rede Europeia de Cidades do Vinho nomeou a cidade de Torres Vedras e a vila de Alenquer como cidades europeias do vinho. Esta nomeação trouxe dezenas de eventos às duas localidades durante o ano.
Em Abril, Eduardo Chadwick foi eleito “Man of the Year” pela revista Decanter. Foi o reconhecimento da importância de uma figura pioneira que ajudou a projetar no mundo os vinhos chilenos. A parceria estabelecida com Robert Mondavi, nos anos 90, para a criação de Seña e a “Berlim Tasting”, na qual os seus vinhos bateram os melhores exemplares de Cabernet Sauvignon do mundo, devem ter sido determinantes na escolha.
Também em abril, a revista Decanter publicou um extenso artigo sobre os últimos 12 anos de investimentos e desenvolvimentos na indústria corticeira. Miguel Cabral, da Corticeira Amorim, garantiu que no ano de 2020 não haverá TCA nas rolhas da empresa.
O mês de abril trouxe a notícia da aquisição da Bodegas Aura, na DO Rueda, pela Sogrape. Esta companhia aumenta a sua posição em Espanha depois de já ter adquirido, em 2012, as Bodegas Lan na Rioja.
Ainda durante o mês de abril, a revista Wines & Vines publicou um relatório realizado pela Sovos Ship Compliant na qual reporta um grande crescimento da venda direta de vinho ao consumidor nos Estados Unidos da América (EUA). No ano de 2017 o aumento foi de 15,3% em volume e 15,5% do valor. O aumento cifrou-se em 2,69 biliões de doláres. Em 2018 o valor foi incrementado para 3 biliões de dólares.
Em maio, a região de Champagne, especialmente o corredor entre Les Riceys e Vitry-le-Croisé, foi atingida pelo granizo. Os produtores reportaram que algumas pedras teriam 5 cm de diâmetro. A região de Bordéus também foi severamente afetada por duas tempestades sucessivas. Cerca de 7100 hectares foram atingidos e 3400 hectares tiveram perdas de 80%.
No mês de maio surgiu a confirmação da declaração generalizada de Vintage pela grande maioria das empresas de vinho do Porto. Este também foi o ano de alterações significativas no setor do vinho do Porto. Em primeiro lugar, baixou a graduação dos vinhos correntes para 18 graus de álcool, em segundo lugar para obter o estatuto de comerciante basta ser detentor de 150 mil litros de vinho do Porto. Por fim, o Instituto do Vinho do Porto efetuou o registo da marca coletiva “Vinagre de Vinho do Porto”. Desta forma, já é possível adquirir vinagre de vinho do Porto num qualquer estabelecimento comercial.
O Douro, em especial a zona do Pinhão, foi atingido por uma forte queda de chuva e granizo que originou elevados prejuízos.
Nesse mesmo mês, o Dr. Greg Jones, especialista em mudanças climáticas e diretor do “Grace & Ken Evenstad Center for Wine Education”, sediado no Oregão, revelou que as investigações em curso apontam para o incremento de eventos climatéricos adversos nos próximos anos.
A “European Academics Science Advisory Council” apresentou igualmente um estudo no qual revela que as inundações quadruplicaram desde 1980, a nível global. Os fenómenos como: secas, fogos florestais e vagas de calor duplicaram nesse período de tempo.
O mês de junho ficou marcado pelo falecimento de Fernando Guedes, um dos grandes arquitetos da empresa Sogrape e responsável pela criação do sucesso mundial do Vinho Mateus Rosé e Barca Velha.
No Porto, em julho, decorreu uma cimeira dedicada às alterações climáticas, organizada pelo grupo Fladgate, na qual participou o antigo presidente dos EUA: Barack Obama. Neste evento, a UNESCO propôs que a industria vínica tivesse um papel mais ativo na investigação do impacto das mudanças climáticas.
Nesse mês faleceu Pierre-Auguste Clape. Uma das figuras mais importantes no rejuvenescimento da região de Cornas. Em setembro seria a vez de Giuseppe Rinaldi, um dos mais respeitados produtores do Piemonte. O mundo vínico ficou mais pobre.
O mês de outubro fica marcado pela criação de um índex que acompanha o mercado mundial do vinho do Porto. Trata-se do “Port 50 Index” e foi criado pela “Live Ex”, uma empresa que criou, em 2000, uma bolsa de mercado para os vinhos do mundo.
O relatório anual da Organização Mundial do Vinho referente ao ano de 2017, publicado em novembro, estimou que o consumo mundial de vinho foi de 244 milhões de hectolitros (Mhl). A superfície de vinhas também aumentou para 7.534 quilómetros de hectares (Kha). A Espanha permanece um líder claro em termos de área de superfície cultivada (967 kha) à frente da China (870 kha) e França (786 kha). A produção de vinho baixou relativamente ao ano anterior, ainda assim a Itália confirmou a sua posição como principal produtor mundial com 48,5 Mhl, seguido pela França com 46,4 Mhl e Espanha com 40,9 Mhl. Os EUA confirmaram a sua posição como o maior consumidor global, seguido pela França com 27 Mhl, Itália (22,6 Mhl), Alemanha (20,1 Mhl) e China (17,9 Mhl). O comércio internacional de vinhos aumentou 3,4% em termos de volume (108 Mhl) e 4,8% em termos de valor (30 biliões de Euros), comparando com 2016.
Em Portugal, as previsões do Instituto do Vinho e da Vinha apontam para uma redução de 3% na produção de uva. Ainda assim, a produção nacional originará cerca de 6,5 milhões de hectolitros.
Com um mercado tão grande e tão lucrativo é natural que surjam algumas fraudes associadas ao setor. Assim, a “Direction Générale de la Concurrence, de la Consommation et de la Répression des Fraudes” revelou, em novembro, a apreensão de uma quantidade de vinho falsamente rotulado que daria para encher 13 piscinas olímpicas.
Em novembro surgiram notícias sobre um leilão organizado pela Sotheby’s, em Nova Iorque, no qual foi arrematada uma garrafa de Romanée-Conti de 1945 por 538 mil euros. Este valor estabelece um novo máximo para a venda de um vinho. Também foi estabelecido um novo máximo de preço para um vinho do Porto. A façanha foi conseguida pelo vintage da Niepoort de 1863 e foi vendido por 128 000 dólares.
Neste mês, o fundador da Herdade do Esporão, José Roquette foi reconhecido com o prémio “Lifetime Achievement” atribuído pela “The Drinks Business Green Awards 2018”. A atribuição deveu-se à introdução de práticas agrícolas sustentáveis e inovadoras.
O ano vínico de 2018 foi uma verdadeira montanha russa de acontecimentos. Para o ano apresentaremos as notícias mais relevantes de 2019.
Até lá, cheers.